Caderno de Leitura: um companheiro na alfabetização

Caderno de Leitura: um companheiro na alfabetização

Ao longo dos meus anos como educadora, uma prática que sempre esteve presente em minhas propostas pedagógicas é o uso do caderno de leitura. Mais do que um simples espaço para registrar títulos e autores, ele se transforma em um diário de descobertas, encontros com palavras e reflexões sensíveis sobre o que se lê.

Na sala de aula, o caderno de leitura pode assumir muitas formas — e essa é, talvez, uma de suas maiores riquezas. Ele pode ser construído com os alunos desde o início do ano, ganhar vida com desenhos, comentários orais transcritos, recontos, listas de livros lidos e pequenas produções inspiradas nas histórias trabalhadas. Tudo isso ajuda a fortalecer o vínculo da criança com o universo da leitura e da escrita.

Segundo Emília Ferreiro, ao investigar o processo de aquisição da linguagem escrita pelas crianças, percebe-se que o contato significativo com os textos é essencial para que elas compreendam as funções da escrita. E o caderno de leitura pode cumprir esse papel de forma afetiva e contínua, pois valoriza o percurso de cada criança como leitora em formação.

Outra importante referência nesse campo é Teresa Colomer, que afirma que a leitura literária, para se consolidar como prática, depende de um processo de formação do leitor que envolva afetividade, prazer e mediação competente. Nesse sentido, o caderno de leitura pode ser um espaço privilegiado para cultivar esse vínculo entre criança e literatura.

Regina Zilberman também reforça o papel da literatura como ferramenta de construção de sentidos e ampliação do repertório cultural — não apenas como apoio à alfabetização, mas como direito à linguagem simbólica e ao imaginário.

🌱 E hoje, ainda usamos cadernos de leitura?

Sim, mas com novos olhares e propósitos. O caderno de leitura ainda é muito utilizado nas escolas, especialmente na Educação Infantil e nos Anos Iniciais, mas não mais como um espaço de repetição ou controle mecânico. Ele vem sendo ressignificado a partir de abordagens que reconhecem a criança como sujeito leitor.

Hoje, o caderno de leitura pode ser:

  • Espaço de autoria: onde a criança expressa livremente suas impressões, desejos, sentimentos e até invenções a partir do que leu ou ouviu.
  • Registro do percurso leitor: mais do que listar livros, ele revela a relação afetiva da criança com os textos, suas preferências e descobertas.
  • Ferramenta de diálogo: incluindo comentários ditados pela criança, bilhetes das famílias ou respostas criativas como “o que você perguntaria ao personagem?”.
  • Instrumento de mediação literária: quando se articula com outras linguagens como desenho, música, dramatização e escrita criativa.

Autoras como Roxane Rojo e Ana Teberosky nos ajudam a entender que ler e escrever são práticas sociais, e, por isso, devem estar inseridas em contextos significativos e não apenas escolares. O caderno de leitura, quando pensado com esse olhar, deixa de ser apenas um "exercício" e passa a ser uma experiência de linguagem.

Além disso, novas abordagens permitem integrar formatos digitais ao processo, como blogs de turma, vídeos com comentários dos alunos ou registros em portfólios digitais. Mesmo assim, o registro físico continua sendo muito valorizado, especialmente por sua materialidade acessível e pelo vínculo que gera nas crianças pequenas.

✍️ O que pode ter no caderno de leitura?

  • Lista de livros lidos ou lidos pela professora;
  • Recontos feitos oralmente e registrados pela professora;
  • Desenhos que representem partes marcantes da história;
  • Pequenos textos inspirados na leitura (imaginando um final diferente, por exemplo);
  • Frases ditadas pelas crianças sobre o que mais gostaram na história;
  • Reflexões simples: "Você gostou da história? Por quê?"

O mais importante é que o caderno tenha sentido para a criança e que não seja apenas mais uma tarefa escolar. Ele deve ser um espaço onde ela se reconhece como leitora, onde sua escuta é valorizada e suas impressões são respeitadas.

📌 Dica prática:

A leitura feita pela professora, com entonação, pausas e envolvimento, é uma das mais potentes estratégias para incentivar o gosto pela leitura. Após a leitura, que tal propor que cada criança desenhe a parte que mais gostou da história? Você pode escrever a fala delas ao lado do desenho, e assim, o caderno vai ganhando voz e personalidade.

O caderno de leitura não é um fim em si. Ele é processo. É caminho.
E quando valorizamos o percurso do leitor que a criança está se tornando, damos a ela mais do que letras: damos sentido.

 


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1 Comentários

  1. Olá querida!

    Vim lhe agradecer pela visita e tbm conhecer seu cantinho. Adorei seu blog; as postagens estão muito úteis e bacanas.
    Sempre trabalhei com o caderno de leitura com os alunos... Eles adoram e é um trabalho de incentivo à leitura mto bom.
    Bjk.

    Priscila
    www.alfabetizacaoecia.blogspot.com

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