Folclore na Alfabetização - Entre Cantigas, Identidade e Leitura do Mundo

Agosto chega e com ele o colorido das lendas, das parlendas, das cantigas e dos personagens que povoam o imaginário popular. Na escola, é o momento em que o folclore ganha destaque, mas também o convite para que possamos ir além das fantasias e das caricaturas, enxergando nele um campo potente de aprendizagem e construção de identidade cultural.

Para quem trabalha com alfabetização, o folclore é mais do que um “tema do mês”. Ele é vida pulsando em forma de texto, voz ecoando em forma de história e cultura ganhando corpo nos gestos das brincadeiras de roda.

Folclore como linguagem: o que a BNCC nos aponta

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), quando orienta os campos de experiência e os eixos da alfabetização, propõe que a criança leia e escreva o mundo a partir de práticas sociais significativas. E o que pode ser mais significativo do que os saberes da sua comunidade, da sua família, do seu território?

O trabalho com o folclore, sob essa perspectiva, não é uma atividade isolada. Ele é parte de uma proposta maior de valorização da diversidade, do patrimônio oral e cultural, da escuta atenta, da formação de leitores e produtores de texto.

Trabalhar lendas, adivinhas, trava-línguas, cantigas, causos e receitas é também trabalhar letramento, oralidade, escrita com sentido, reconhecimento do outro, respeito à diferença e pertencimento.

Para as crianças em processo de alfabetização, o folclore é um convite à descoberta

Ao conhecer o Saci, a Iara, o Bumba Meu Boi ou o Negrinho do Pastoreio, a criança aprende mais do que nomes: ela aprende que há várias formas de contar uma história, de explicar um fenômeno, de organizar a vida em comunidade. Ela percebe que a cultura brasileira é feita de encontros, de trocas, de múltiplas vozes.

Esses personagens e narrativas se tornam gatilhos para a escrita, pontos de partida para leitura, matéria-prima para o desenho, a música, a encenação, a matemática, o movimento. Tudo pode nascer daí, se o olhar do professor estiver atento ao que pulsa.

E, na prática, como fazer?

Compartilho abaixo algumas sugestões de atividades para o trabalho com o folclore nas turmas de alfabetização, sempre com foco na linguagem, na autoria e na cultura viva:

• Livro do Meu Personagem Preferido: cada criança escolhe um personagem do folclore e escreve (ou dita) uma pequena história com ele. Ilustra e monta um livrinho. O professor pode fazer um vídeo com as crianças contando essas histórias.
• Cantigas para ler, cantar e reinventar: escolha algumas cantigas populares e proponha a leitura coletiva. Depois, as crianças podem inventar novas versões trocando palavras ou criando novas estrofes com rimas. 
• Roda de causos da família: envolva as famílias pedindo que compartilhem alguma lenda ou história que ouviram quando eram crianças. Os alunos podem recontar oralmente para os colegas e registrar com desenhos ou legendas.
• Exposição cultural: Monte um cantinho do folclore com as produções das crianças, incluindo receitas típicas, desenhos, textos, cantigas, brinquedos e objetos representativos.
• Mapa dos saberes populares: crie com a turma um mapa do Brasil e vá marcando onde surgiram determinadas lendas ou brincadeiras. Isso ajuda a criança a entender a diversidade cultural do país.

Neste link compartilho algumas das atividades citadas acima. 

Espero que ajude no seu planejamento!

 

 

 

🔎 Clique aqui e acesse as atividades 

 

Em vez de “fazer folclore em agosto”, que tal viver o folclore como parte da alfabetização?

Quando nos abrimos para o folclore como linguagem viva, deixamos de lado os moldes prontos e nos aproximamos da infância de verdade. Aquela que brinca, que canta, que inventa, que escuta, que reconta e que escreve o mundo com os recursos que tem: a oralidade, o corpo, os gestos, os textos que fazem sentido.

E assim, letramos com cultura, alfabetizamos com identidade, e ensinamos que o Brasil é feito de histórias – muitas histórias – e que cada uma delas importa.